À conversa com Filipe Leitão – Responsável pela secção de Atletismo do Futsal Gondomar Clube

Filipe Leitão é o responsável pela Secção de Atletismo do Gondomar Futsal Clube. É natural de Gondomar, concelho onde cresceu e reside, é profissional de seguros e tem como paixões no desporto, a corrida, o futebol e o voleibol.O Gondomar Futsal Clube é uma colectividade com 22 anos e tem actualmente 3 modalidades. O Futsal, modalidade berço do clube, e ainda a Dança e o Atletismo.

A Secção de Atletismo, após alguns anos de interregno, foi reactivada em Maio de 2013 e é precisamente em Junho desse mesmo ano que o Filipe Leitão entra para o clube como Atleta. Em Abril de 2014, a convite da Direcção do Clube, passou a ser o responsável pela Secção de Atletismo, até ao presente.

Na época que agora terminou, 2017/2018, a Secção de Atletismo contou com 78 Atletas (22 mulheres e 56 homens). Participaram num total de 120 provas (41 provas de estrada e 79 provas de trail), com 698 inscrições (220 estrada e 478 trail). Conquistaram 55 pódios (15 pódios na geral e 40 pódios por escalão). A equipa percorreu 14.146Km em provas.

P.: Qual é a vossa imagem de Marca?

R.: Sempre fomos vistos como a equipa da Lucinda Sousa, o que sempre foi um gosto para nós. Hoje já somos vistos como uma equipa de Gondomar, que transporta o nome da nossa cidade.

P.: Que vantagens e deveres têm os atletas em pertencer à equipa de Atletismo do Gondomar Futsal Clube?

R.: Para pertencer à equipa de atletismo do Gondomar Futsal Clube o atleta tem que se tornar sócio e paga uma quota anual de 12€. As inscrições nas provas são por conta do atleta. A grande vantagem que os atletas têm é essencialmente terem todo o apoio institucional e administrativo que a secção presta ao atleta junto da ATRP, da Associação de Atletismo do Porto e junto de todos os organizadores de provas.

Com isso usufruem das parcerias que temos com alguns Organizadores de provas, que nos permitem manter o preço da 1ª fase ou nos permitem inscrever atletas quando a prova está esgotada para o público.

Além disso, temos também um sistema de pontos e de pódios, disponível de igual forma para todos os atletas, que no final da época se reverte em incentivos financeiros a favor dos atletas, entre 5% a 10% dos gastos que o atleta teve, de acordo com o seu desempenho anual.

P.: Os atletas têm algum tipo de apoio a nível de treino, nutrição ou fisioterapia?

R.: Temos parceria com o Dr. Eduardo Salgado no âmbito da fisioterapia e recuperação com vários níveis de descontos e também algumas ofertas, como é o caso da avaliação biomecânica de corrida. O protocolo está em vigor não só para os atletas, mas também para os seus ascendentes e descendentes.

Relativamente ao treino, os atletas podem sempre contar a ajuda e apoio da Lucinda Sousa, que apesar da sua saída para outro projecto desportivo, se mantém no clube como nossa Embaixadora e Conselheira Técnica. Para além de experiente atleta, é Licenciada em Desporto e Educação Física.

P.: Têm como hábito fazer/marcar treinos ou provas em conjunto?

R.: Fazemos treino em conjunto 2 vezes por semana. Às terças pelas 21h, o treino é fechado só para os atletas do clube. Às quintas pelas 19h, o treino é conduzido pela Lucinda Sousa e como é tradição de longa data, costuma contar com alguns amigos que são atletas de outras equipas.

Quanto às provas, a secção divulga um calendário de provas abrangente e cada atleta tem liberdade para escolher as provas em que quer participar.

P.: Quais são as maiores dificuldades/desafios que a Secção enfrenta?

R.: O grande desafio de um clube é perdurar no tempo. Hoje em dia é tudo muito volátil. Felizmente, já vamos para a sexta época e temos conseguido manter o número de atletas.

Gerir as pessoas é sempre o mais complicado. Como clube temos que conduzir as coisas pela via institucional, mas as responsabilidades e encargos que temos na via institucional muitas das vezes não permitem dar as melhores condições aos atletas, corresponder às suas expectativas.

P.: Como é que angariam receitas para a secção?

R.: Temos a receita das quotas dos sócios, que reverte a favor do Clube, para ajudar a suportar os gastos fixos, que por sua vez, todos os anos afecta parte dessa receita ainda disponível à Secção de Atletismo. A receita directa que temos é angariada através da organização do Trail da Filigrana, prova organizada em conjunto com o Centro Ciclista de Gondomar.

P.: O que define o Trail da Filigrana?

R.: O Trail da Filigrana é uma prova organizada em conjunto pelo Gondomar Futsal Clube e pelo Centro Ciclista de Gondomar. Vamos realizar a IV edição no dia 13 de janeiro de 2019. Por norma temos 2 distâncias, 25km e 15km, e ainda a caminhada. Este ano vamos ter uma nova distância de 10km. Pretendemos com esta nova distância cativar para o trail pessoas que se estejam a iniciar na modalidade e aqueles que querem e gostam de provas rápidas.

A nossa prova é pensada para todo o tipo de atletas, os mais competitivos e os mais bem-dispostos. Não fazemos parte do calendário da ATRP. Institucionalmente teríamos todo gosto em pertencer ao calendário, parece-nos que temos todas as condições reunidas para o ser, mas eventualmente em teoria, talvez ainda falte cumprir algum critério da ATRP.

O nosso objetivo, conforme regulamento, é angariar receitas para financiar a prática do Atletismo dos dois clubes.

P.: Quais são as maiores dificuldades na organização do Trail da Filigrana?

R.: É sem dúvida a gestão da relação custo/beneficio. O mundo das corridas tem a leitura de que organizar um trail dá receitas para viver um ano. Mas não é bem assim. Para nós e para o Centro Ciclista de Gondomar, a nossa prova tem que ser auto sustentável em termos financeiros. Não pode dar prejuízo. Nem pode ser pensada a contar com eventuais ajudas de terceiros. Com base neste princípio, a partir daí, aceitamos tudo o que possa ser benéfico para nós.

As autarquias dão-nos uma ajuda fundamental. Quer a Câmara Municipal Gondomar, quer as 3 Juntas de Freguesia do território onde passa a prova, apoiam-nos em todas as questões logísticas (transportes de carga, barreiras, infraestruturas, banhos, etc.), mas ainda assim, o custo por atleta inscrito é muito grande. Custo nos seguros, nos licenciamentos, com as forças de protecção civil, t-shirts, cronometragem, etc.

Uma prova só é rentável se tiver muitos patrocínios financeiros. Sem isso, se for autónoma como a nossa, é apenas boa uma ajuda para algumas despesas da época.

P.: No futuro, pretendem organizar outro tipo de eventos?

R.: Estamos a ponderar a possibilidade de organizar uma prova de estrada em Gondomar, mas os gastos fixos são muito altos, face às receitas do número expectável de inscritos. Em grande parte devido ao custo de policiamento para corte de via pública e gestão do tráfego.

P.: Qual é a sua opinião sobre as organizações de provas trail em Portugal?

R.: Na óptica do utilizador acho bem que haja muitas provas porque assim existem provas para todos os gostos. Promovem e fomentam a prática desportiva. Há muitas provas que têm os abastecimentos com critério de prática desportiva, outras com o critério piquenique, provas que dizem “quanto mais duro melhor”, outras “quanto mais acessíveis melhor”. Eu acho que há espaço para todos, depois será o mercado do atleta participante e do atleta competitivo a regular isso.

Na óptica de dirigente desportivo e de organizador devo dizer que na organização de uma prova nem tudo é um mar de rosas. Há muita responsabilidade em organizar um evento público. Responsabilidade Institucional, responsabilidade Jurídica e até responsabilidade Social. Se for para criar prejuízo financeiro ou criar constrangimentos legais, mais vale não fazer. Ou até mesmo criar uma má imagem institucional junto da opinião pública, mais vale estar quieto. No entanto, quando nos propomos a fazer, temos sempre um risco associado.

Há muitos bons exemplos de provas bem-sucedidas por esse país fora, com organizações de excelência, com quem podemos aprender. Por outro lado, temos também algumas provas com constrangimentos que devem ser evitados. Todos aprendemos uns com os outros.

Um conselho que posso dar é que avaliem bem se têm condições e recursos para o fazer, se acharem que sim organizem porque que há espaço para todos. Como exemplo, o Trail da Filigrana que nas últimas 3 edições teve mais de 1200 inscritos requer cerca de 100 voluntários.

P.: Qual é a tua opinião sobre a ATRP?

R.: A minha opinião enquanto dirigente é que é benéfico para a modalidade o aparecimento da ATRP. Concordo com o alinhamento da ATRP com a Federação Portuguesa de Atletismo, quer a nível do calendário competitivo, como do período de transferências, é benéfico. Todo o ruído que existe em redor da ATRP, em grande parte é fruto de dores de crescimento, da regulação e alterações que se tem vindo a fazer ao longo dos anos.

No entanto, todos os agentes desportivos envolvidos, os atletas, os clubes e principalmente a ATRP devem refletir, porque não podemos andar sempre com dores de crescimento. Há que estabilizar. Têm, em conjunto, que definir um caminho, uma estrutura.

Entendo que quando se quer permitir tudo e mais alguma coisa, rankings para tudo e mais alguma coisa, quando se quer imensas provas para um atleta pontuar e ser campeão acho que estamos a complicar a coisa.

A nível institucional a nossa opinião no critério desportivo seria uniformizar e restringir os métodos competitivos. Em vez de haver 50 provas para se pontuar, deveria só haver 10 provas pontuáveis. Assim os atletas competiam todos no mesmo dia, na mesma prova, no mesmo terreno, com as mesmas condições. O campeão deveria ser apurado por regularidade e não apenas por uma prova.

Os dirigentes da ATRP deveriam pensar numa revisão estatutária. Se há muito ruído de fundo é porque as ferramentas estatutárias não permitem que nas assembleias gerais se possam fazer revisões de várias temáticas. Isto porque quem é filiado é o atleta. No nosso entender quem deveria ter a representação em AG deveriam ser os clubes. Só assim era possíveis os atletas respeitarem os clubes e os clubes respeitarem a ATRP. Porque existia uma responsabilidade partilhada nas decisões. Atletas-Clubes e Clubes-ATRP.

Dessa forma seria possível usar os canais de comunicação e decisão próprios, as AG, para expor críticas, soluções e elogios. Ao contrário do que acontece hoje, onde as decisões e alterações são unilaterais por parte da ATRP e o debate se faz no Facebook.

P.: Qual é a tua opinião sobre a AAP?

A Associação de Atletismo do Porto para além da sua função reguladora da modalidade, desempenha um papel institucional fundamental na promoção do atletismo de formação e nas vertentes mais técnicas.

No entanto, para que a prática do atletismo esteja disponível para todas as pessoas, para os “adultos”, esse papel é complementado pela iniciativa privada e pela iniciativa dos Clubes, na promoção e organização de provas de estrada.

Acho que a AAP tem que “correr” mais para acompanhar o “ritmo” a que o “mundo das corridas” rola nos últimos tempos.

P.: Quais as ambições futuras param o projeto da Secção de Atletismo do Gondomar Futsal Clube?

R.: A nível de organização e de gestão sentimos que estamos mais maduros e estabilizados. A partir da próxima época 2018/2019, vamos focar-nos mais nos atletas e na dinâmica de grupo. Para isso, já definimos um plano de actividades com várias novidades. Vamos também tentar criar novas parcerias com benefícios para os atletas e no vestuário, para além da camisola, ter algum equipamento adicional, com o objetivo de ter uma imagem mais uniforme no pelotão.

Por outro lado, sentimos necessidade de comunicar melhor. Para isso, iremos lançar em novembro uma página no Facebook exclusiva da secção de atletismo com o objetivo de divulgar ao mundo das corridas a nossa prática de atletismo e também dar a conhecer a nossa história, com o intuito de fazer um arquivo. Os nossos Atletas merecem isso!

Apontamento Final

“ O mundo das corridas só existe por causa das pessoas e só vai funcionar enquanto houver uma boa relação entre elas, sejam atletas, dirigentes ou organizadores. Considerando que problemas e diferenças de opinião irão sempre existir, eu acho que o mais importante é conseguir mais coisas em conjunto do que em separado. O caminho ideal para todos estará no agregar e não no dividir”